Sonho divino: como eles se comunicavam com os deuses na antiga Mesopotâmia

Os primeiros povos mesopotâmicos acreditavam que, seguindo uma série de instruções precisas, poderiam experimentar sonhos que os conectariam diretamente aos deuses. Aino Hatinen, um especialista em assiriologia da Universidade Ludwig Maximilian de Munique, estudou um conjunto de tabuletas cuneiformes que continham essas instruções para induzir esse tipo de sonho.

A tabuleta mais antiga remonta a cerca de 1100-800 a.C., e essas instruções são mencionadas em tabuletas que datam do primeiro século a.C. Esses textos, muitas vezes escritos por conselheiros reais, estudiosos e escribas considerados especialistas na literatura de previsões, foram encontrados nas antigas cidades de Nínive, Assur, Uruk, Sippar e Babilônia, localizadas no que é hoje o Iraque.

Hatinen descobriu que esses textos continham conselhos que variavam de acordo com os 12 meses do calendário lunar. "Normalmente, eles se concentravam na alimentação: o que você deveria comer, que roupa deveria vestir", diz ela. "Também incluíam instruções sobre o seu estado de espírito, se você deveria fazer sexo ou onde deveria dormir".

Um dos textos dizia o seguinte: "A pessoa deve se untar com lama e ser ungida com óleo. Ela deve permanecer em silêncio... Deve dormir no corredor". Os autores afirmavam que seguir essas instruções resultaria em visões auspiciosas, permitindo que as pessoas se comunicassem com vários deuses - sejam eles deidades pessoais, deidades malignas ou deuses do submundo.

As pessoas até podiam adaptar seu comportamento para conseguir uma audiência com as divindades de sua escolha. "As instruções para dormir no telhado permitem que você se conecte aos deuses noturnos", explica Hatinen. "Você não precisa ir até o altar do santuário, é possível fazer um contato direto apenas olhando para o céu".